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Covid-19: episódio de ereção prolongada

Dr. Guilherme Scannapieco Zambone CRM-MG 65461

 

Covid-19 pode provocar episódio de ereção prolongada, priapismo.

 

O novo coronavírus, causador da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS CoV-2), tem levado a uma crise de saúde mundial. Cerca de 5% dos pacientes requerem tratamento em unidade de terapia intensiva em decorrência dos sintomas de falta de ar e a consequente necessidade de suporte ventilatório. Entre os que desenvolvem manifestações respiratórias, um percentual significativo apresenta uma situação chamada de hipercoagulabilidade.

 

Covid-19: episódio de ereção prolongada
Covid-19 pode provocar episódio de ereção prolongada, priapismo

 

Isso faz com que o sangue coagule com mais facilidade no interior dos vasos sanguíneos do pulmão e da região das pernas e por isso torna-se necessário o uso de medicações preventivas, que inibem a coagulação sanguínea.

Em junho foi publicado no American Journal of Emergency Medicine* o relato de um paciente francês de 62 anos atendido na emergência com falta de ar, febre e ereção peniana com duração de quatro horas. Essa ereção prolongada, geralmente dolorosa e não relacionada ao desejo sexual, é chamada de priapismo e representa uma emergência médica. Essa foi a primeira descrição de um priapismo relacionado à infecção pelo coronavírus.

 

A infecção pela SARS CoV-2 determina um risco maior de fenômenos tromboembólicos em função da resposta inflamatória maciça frequentemente associada, que altera a estrutura da parede dos vasos sanguíneos (chamada de endotélio), leva a uma situação de hiperviscosidade sanguínea (o sangue fica mais denso) e hipercoagulabilidade. Essas alterações na parede dos vasos e no sangue circulante muito provavelmente foram a causa do priapismo no caso do homem francês, já que não foi identificado outro fator de risco para o ocorrido.

 

Diagnóstico e tratamento

 

A avaliação diagnóstica no paciente com priapismo deve incluir a história clínica, exame físico e avaliação laboratorial. Em alguns casos, uma avaliação radiológica se faz necessária.

 

 

 

Há dois tipos principais de priapismo, o de baixo fluxo (ou isquêmico) e o de alto fluxo (ou não isquêmico). É muito importante a diferenciação entre eles porque o tratamento é diferente nas duas situações. Na história médica é importante detalhar a duração da ereção, a presença de dor, a história anterior de episódios semelhantes, o uso de medicações ou de drogas que possam ter precipitado o episódio (álcool, cocaína, injeções penianas para obtenção de ereção, entre outros), história de trauma pélvico ou perineal e as doenças preexistentes. Algumas doenças hematológicas como a anemia falciforme alteram a viscosidade sanguínea e predispõem à ocorrência de priapismo, que frequentemente se apresenta de forma intermitente nesses pacientes.

 

A avaliação laboratorial deve incluir obrigatoriamente um hemograma. Alterações na contagem ou na forma das células vermelhas (hemácias), brancas (leucócitos) ou ainda nas plaquetas podem dar importantes pistas diagnósticas. A punção do pênis para a aspiração de uma pequena quantidade de sangue é um passo fundamental no manejo do priapismo. O sangue aspirado em pacientes com priapismo isquêmico é pobre em oxigênio e, portanto, de cor escura. Já o sangue aspirado no priapismo não isquêmico é normalmente oxigenado e, por conseguinte, vermelho vivo.

 

A análise laboratorial das pressões de gás carbônico e oxigênio, chamada de gasometria, permite a diferenciação entre o priapismo isquêmico e o não isquêmico.

 

A ultrassonografia com doppler peniana pode ser utilizada como alternativa ou complementar à gasometria para estabelecer o tipo de priapismo. No isquêmico, pouco ou nenhum fluxo sanguíneo é observado nas artérias cavernosas, enquanto o não isquêmico tem velocidade de fluxo sanguíneo normal ou elevado.

 

Feito o diagnóstico do tipo de priapismo, o tratamento deverá ser urgente. O priapismo isquêmico traz um grande potencial de lesão do tecido erétil peniano e quanto maior o tempo de evolução maiores as chances de fibrose peniana e disfunção erétil severa. O tratamento é feito através da punção e aspiração dos corpos cavernosos e/ou injeção de medicações que vão possibilitar a detumescência (retorno do pênis ao estado flácido após a ereção) peniana. Quando isso não for o suficiente para resolver a ereção prolongada, há a necessidade de drenagem cirúrgica.

 

Após esse relato de um novo efeito relacionado à infecção pelo coronavírus é importante que seja incluído na história de exame físico desses pacientes a avaliação de um eventual priapismo.

 

 

Mais informações:

Dr. Guilherme Scannapieco Zambone
CRM-MG 65461

Graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina de Sao José do Rio Preto – FAMERP
Residência em Cirurgia Geral pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto
Residência em Urologia pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto
Titulo de especialista em Urologia pela Sociedade Brasileira de Urologia

Poços de Caldas – Av Champagnat, 863, sala 205

Tel 35 37221368

Fonte: *M. Lamamri, A. Chebbi, J. Mamane, et al., Priapism in a patient with coronavirus disease 2019 (COVID-19): A case report, American Journal of Emergency Medicine (2020).

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