A VIDA POR UM FIO

A VIDA POR UM FIO

Este é um relato de um paciente de 40 anos de idade que deu entrada no hospital em parada cardíaca. Quem é ele? O que ele estava fazendo? Era um cidadão comum que estava fatigado pela sua rotina, estava com sobrepeso, sedentário e estressado. Já caminhava sem esperança de um futuro melhor, chegava em sua casa e encontrava tudo igual. Tinha um vazio existencial, não encontrava motivações e achava que as pessoas em seu redor não o entendiam e não o valorizavam.

No momento em que passou mal relatou uma dor no peito de intensidade muito forte que queimava e subia na garganta e ia para as costas. Pensava que era azia. Num movimento mínino que fez, faltou-lhe o ar, pediu ajuda e logo desfaleceu. Um amigo ligou para o SAMU e notou uma respiração agônica e lenta em seu colega, que já estava sem consciência. Tentou sentir o pulso e não notou os batimentos cardíacos. Nesse momento o amigo começou a fazer massagem cardíaca inintruptamente até o SAMU chegar.

Peço licença para dar uma pausa nessa história e fazê-los refletir o valor da vida através de um gesto concreto. Sabia que 1 min em parada cardíaca o coração já sofre lesões e que após 3 min em total parada cardíaca já existem sequelas cerebrais irreversíveis? A massagem cardíaca deve ser feita ininterruptamente até o SAMU chegar.

Pois bem, a vida vale cada segundo que o seu coração bate no peito. Para uma reflexão ainda mais superior, a vida vale cada segundo que uma pessoa se doa a você, nesse caso um amigo. Já vi um caso real de 1 hora de parada cardíaca, onde muitas pessoas se revezavam para fazer a massagem cardíaca e após muito esforço o coração voltou. E pergunto: qual a sua disposição de se doar para fazer uma outra vida reviver? Será que após 1h de reanimação eu desistiria dessa vida? E se essa vida fosse a minha? Você gostaria que alguém se esforçasse por você? Isso nos mostra a importância de refletirmos sobre a Vida, esteja ela no ventre de sua mãe, na infância, na vida adulta ou na senilidade.

Retomando a história, logo que o SAMU chegou, após 10 minutos do ocorrido foi visto o ritmo da parada cardíaca. Era um ritmo cardíaco chocável e foi submetido a desfibrilação cardíaca (choque no peito). Os batimentos voltaram e o paciente foi retomando a consciência. Verificou-se um infarto agudo do miocárdio. Foi levado ao hospital, num tempo adequado e encaminhado diretamente ao serviço de hemodinâmica. Realizado o cateterismo e angioplastia da artéria que havia entupido num tempo ideal. Digo que essa vida valeu por “um fio”, a artéria entupida estava 99% obstruída, restava 1% de passagem do sangue.

Vejam que esse exemplo é um caso dramático do infarto agudo do miocárdio e 50% dos paciente infartados podem morrer sem dar tempo de chegar ao hospital. Por esse motivo e muitos outros é que conscientizamos a população da importância de retomar as rédeas da própria vida, procurarem um médico para prevenção de doenças, reestabelecer a harmonia equilibrio de suas vidas.

Estamos inseridos numa sociedade que visa o consumo, o materialismo, onde as pessoas são descartadas, a vida de animais se torna mais valiosa que a própria vida humana. Devemos começar a perceber o que há de concreto, de real dentro da particularidade de cada um de nós. Mudarmos o nosso olhar para o que é de real importância. As redes sociais nos trouxeram fontes imaginativas danosas, que são causas de ansiedade, depressão; estimulando o consumismo.

Mas será que dentro da minha realidade de vida, minhas circunstâncias, preciso sofrer por motivos materiais e ou passageiros? O trabalho dignifica o homem, mas é necessário fazer bom uso dos seus frutos, determinar o que é realmente importante investir toda a força. É preciso encontrar equilíbrio no modo de vida. Olhar para o transcendente, saber que acima de tudo, quem permite que o nosso coração bata todos os dias é Deus. Rezar para que estejamos prontos e preparados para o momento de nossa morte.

A medicina olha para o nosso corpo, o biológico e nós médicos do centro cardio pulmonar desejamos promover a saúde física, mental e espiritual de cada paciente para prevenção e ou tratamento de doenças. Se caso houver doenças, como hipertensão, diabetes, pós infarto, ansiedade, depressão, etc; que possamos juntos ajustar o estilo de vida para se adequar a nova realidade, tomar medicações e outros cuidados específicos. Aceitar a vida do jeito que é, instalar na realidade particular de cada um é fundamental para fortalecer a vontade e tomar decisões firmes para melhorar.

Enfim, essa foi mais uma tentativa de despertar a nossa consciência para a realidade de cada um de nós e desviarmos o nosso olhar para o que há de mais elevado no homem, a sua dignidade, que o faz semelhante ao seu Criador.